Em entrevista ao Jornal do Commercio, o atual presidente da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) Marcos fermanian, reeleito para a gestão 2020/2022 falou dos principais desafios do setor e as expectativas futuras que rodeiam as montadoras instaladas no PIM (Polo Industrial de Manaus). Ele falou dos impactos causados pela Covid-19 na economia e as estratégias do setor para os próximos anos. No processo eleitoral de outubro, realizada virtualmente em assembleia geral ordinária, o empresário foi reeleito para o quinto mandato consecutivo. Marcos Zaven Fermanian é economista e iniciou sua carreira na área de administração de negócios da Honda, em 1987. Suas atividades se concentraram na área comercial da montadora a partir de 1993, período de crescimento constante dos negócios com Motocicletas no mercado nacional. Em 2007, assumiu o comando da Honda Serviços Financeiros, atuando fortemente na viabilização de parcerias. Em 2012, transferiu-se para a área de Auditoria Interna da montadora e também foi eleito e iniciou sua gestão como presidente da Abraciclo sendo reeleito em 2016. Ele está na Presidência da Abraciclo desde 2012.
Jornal do Commercio – Qual a importância do setor de duas rodas para a economia industrial do país?
Marcos fermanian – O Setor de Duas Rodas é um dos principais protagonistas do desenvolvimento industrial do Brasil, com a produção anual de cerca de 2 milhões de veículos, entre Motocicletas e Bicicletas, empregando de forma direta 13,9 mil profissionais e agregando quase 40 empresas fornecedoras de peças e componentes somente na cadeia produtiva instalada em Manaus (AM), o que resulta na movimentação anual de R$ 15,1 bilhões. As associadas da Abraciclo, que formam este importante setor, continuam a investir na agregação de novas tecnologias, desenvolvimento de projetos e produtos de alto desempenho e eficiência, para oferecer qualidade, mais economia e ampla flexibilidade no dia a dia da mobilidade dos brasileiros.
JC – Qual o período mais marcante que você vivenciou no setor de duas rodas frente à Abraciclo?
M.F – Os anos mais marcantes foram os que sucederam 2011, naquele ano a produção de Motocicleta atingiu o patamar de 12,2 milhões de unidades. Nos anos que sucederam 2011 nós tivemos quedas consecutivas até 2017, quando atingimos 882 mil unidades produzidas com quedas de quase 60%. Nos anos de 2018 e 2019 recuperamos gradativamente até atingir o patamar de um pouco mais de 1,1 milhão de unidades. Entretanto, a pandemia este ano vai nos impor novamente mais um registro de queda no ano acumulado. Apesar disso, esse ano é um ano diferente, a demanda continua em alta e o que limita é a capacidade de produção por conta dos procedimentos que as fábricas devem adotar com o intuito de preservar a saúde dos seus funcionários.
JC – Como você ver o setor de duas rodas para 2021?
M. F – Considerando que 2020 devemos registrar uma queda 15.4 em 2021 devemos recuperar parte disso provavelmente um crescimento realista em torno de 10%. Ainda assim, isso vai nos remeter a patamares abaixo de 2019 praticamente voltando aos níveis de 2018.
JC – Quais os aspectos negativos causados pela pandemia?
M.F – O município de Manaus onde estão sediadas nossas fábricas foi fortemente impactada no início da pandemia, e isso fez com que nossas práticas ficassem paradas praticamente durante dois meses, entre abril e maio. E esse desequilíbrio de demanda entre oferta e procura ainda não foi localizado pela nossa indústria. Lembrando, que atualmente estamos focado na preservação da saúde dos nossos trabalhadores, orientando as fábricas com uma série de procedimentos evitando assim que o contágio acontece dentro de nossas plantas fabris.
JC – Quais as principais estratégias para alavancar o setor e quais os desafios?
M.F – A demanda por Motocicleta continua em alta, e o maior desafio do setor é igual a todo mundo. Ter sob controle a pandemia da Covid-19, e assim conseguimos voltar a produção em níveis normais.
JC – Como você vê a política econômica do governo para ajudar a recuperar os setores da economia brasileira?
M.F – As ações do governo de apoio a população de baixa renda tem trazido efeitos positivos para o nosso segmento. Entretanto, esperamos que a vacina da Covid-19 chegue logo, e que a gente possa levar o nosso dia a dia com a forma que estávamos acostumados, e assim certamente esse será o maior benefício para toda sociedade.
JC – Como está a questão dos insumos importados para o setor? Existe uma alternativa para suprir uma possível carência de insumos para a produção?
M.F – Os nossos associados têm relatados pequenos problemas de abastecimento, mas nada que impeça ou impossibilite os atuais níveis de produção que estamos concretizando. A substituição de insumos de fornecedores externos para internos é uma estratégia de cada fabricante, e certamente todos eles estão debruçados nesse momento para achar a solução e a melhor alternativa para abastecer sua linha de produção.
JC – Como está a expectativa de postos de trabalho no setor?
M.F – Apesar da queda de produção deste ano no acumulado, principalmente pelo início da pandemia nos meses de abril e maio, nós estamos aumentando até mesmo a empregabilidade do setor de Motocicletas em relação ao final de ano, só para se ter uma ideia, dados de maior fornecidos pela Superintendência da Zona Franca de Manaus, totaliza 12.800 empregados diretamente na indústria contra 12.159 de dezembro de 2019.
JC – Quais as expectativas de investimento?
M.F – Os investimentos estão mantidos e os novos modelos previstos para lançar no futuro estão em curso, inclusive investimento em novas tecnologias no programa de emissão de poluentes também está em curso para Motocicletas produzidas a partir de 2023.
JC – Quais os aspectos positivos da pandemia no setor?
M.F – A demanda por Bicicleta que vinha se recuperando de um tombo histórico, né? Nós que já produzimos em 2011 mais de 2 milhões de unidades, estamos ainda na casa de 1 milhão. Então apesar desta recuperação a pandemia trouxe ainda um aquecimento maior da demanda, além disso, a sociedade passou a ter definitivamente um olhar diferenciado para aqueles que trabalham com Motocicleta e que durante a pandemia intensificaram as entregas e permitiu que grande parte da sociedade ficassem em suas casas.

FONTE: Jornal do Commércio – Manaus – AM
DATA: 05/11/2020

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